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By Ferramentas Blog

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014



Saudade

O nó da gravata
O nó na garganta
O nó sem o s
Ainda ontem
Na avenida
No meio da multidão
Teu corpo
Caminhava livre
Mirava a praia
Cada vez mais perto
Cada vez mais brisa
O cheiro
O gosto
Afrouxa o nó
Desata a lágrima
Segue livre
Deixa pegadas
A gravata no chão
A lágrima no chão
E o amor
Ainda no coração!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Hoje eu tenho a idade da minha avó. Ainda uma menina via em seu corpo pequeno a alegria de viver. Não sabia o que era ter mais de 50 anos. Naquela época a vó parecia mais velha. Todas as mulheres pareciam.  A vida era dura e as castigava com seus preconceitos. Não havia espaço para o estudo, não havia espaço para algo mais além dos muros do próprio lar. Ser dona de casa, não era sonho, era obrigação. Era preciso ser.

Os tempos passaram e minha mãe também chegou a essa idade linda. Ainda não havia liberdade, ainda éramos donas de casa, ainda tínhamos pouco estudo, ainda habitávamos o espaço restrito do lar. Algumas mulheres trabalhavam, poucas, e em serviços femininos. Minha mãe costurava para fora. Lindos vestidos que enfeitavam os corpos vaidosos de lindas mulheres. Todas elas.

A minha avó adorava as flores, tinha um jardim lindo na casa do Cassino, as árvores de frutas, as flores de todo tipo, os brincos de princesa, as onze horas, as dálias, as margaridas. Cheiro bom é cheiro de vó. É carinho de um abraço cheio de saudade da infância. É cheiro de flor e gosto de fruta recém colhida do pé.

A minha mãe também tinha esses cheiros bons. A gente, eu e meus irmãos e a minha irmã, cabíamos no seu abraço. Éramos família. Melhor, Família, com F maiúsculo. Lembro da casa ali na Paraíba, o meu quarto da frente, a sala com seu espelho grande, a mesa dos almoços de domingo, o meu pai cozinhando pra todo mundo. Sinto até hoje aquele cheirinho de comida boa. E o pé de Araçá, lá no fundo do quintal, junto com as outras árvores. Vermelhinho como a vida. pulsava ali os meus sonhos.

Hoje eu faço 51! É uma boa ideia!

Hoje eu sei a minha avó, e sei também a minha mãe. E se pudesse estar no abraço das duas seria mais feliz ainda. Mas a vida tem seu curso. Ela nos deixa a saudade. Mas deixa também a certeza de que fomos amados com tanta intensidade que tempo nenhum pode apagar. 

Hoje eu faço 51! É uma boa ideia!

Hoje eu posso querer e não apena ser. Eu sou dona de casa, e também sou mãe, e sou esposa, e sou escritora, e sou poeta, e sou amiga, e sou todas as mulheres que cabem em mim. Agora eu sei o amor verdadeiro, amor de mãe e sei também de uma saudade que faz doer, mas que também nos enche de felicidade. 

Hoje eu faço 51! É uma boa ideia!

E se todas as lembranças, e se todas as saudades, e se todos os abraços, e se todos os outros dias, e se todo meu amor, e se toda essa vontade que às vezes escapa do peito e tinge o papel, ainda está aqui comigo, está viva em mim, é pelo amor que sempre esteve presente em minha vida.

Hoje em São Paulo eu nascia. Hoje em Rio Grande eu faço 51!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014


Exílio

Morro dentro de mim
desde o dia em que nasci
o sol que habita meus olhos
é turvo e esquivo
como é a sombra da pedra 
que não se comove
com o beijo do mar.

Morro dentro de mim
porque só te vejo
de partida
teu dorso é sempre adeus
incompreendido
e infinito 
no dorso de um pássaro cego.

Morro dentro de mim
e lambo minhas feridas
na ânsia de sentir teu gosto
de saber tua boca
flambados de insultos
que me açoitam
como um gozo
que nunca acaba.

Morro dentro de mim
só assim eu vivo.


domingo, 2 de novembro de 2014

Tua boca colada
À minha
Teus sons
Negros
Brancos
Vermelhos
Tua pele
Brilhante
Dourada
Te toco
Sinto teus tremores
Teus rugidos
Teus arrulhos
Teus breves silêncios
Notas cítricas
Cintilâncias
Fulgores
No desejo ardente
No êxtase do beijo

Te toco mais intensa!
Teu corpo
Águia de metal
Penetra a carne
O corte rente
Decepa
Mutila
Líquido
Morno
Sangra
Desvanece.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Maria ainda acenava
quando o trem desapareceu
na curva da saudade

O coração em desalinho
não chorava
nem sorria
porque com o trem
também partia

Os olhos de Maria
que agonia
fitavam estrelas no céu
e a lua sem magia
negra imensidão
que lhe roubou o coração

A mão que um dia acalentou
o filho que sorria
agora vibrava no ar
o último aceno
dessa mãe tão Maria.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Já não sinto mais o frio do aço
desfaço essa cicatriz
esse rótulo
serifas apunhalando
como soldados postos
à espera da morte
os vestígios do meu passado.
Tudo é invólucro
resistente ao tempo
negando a vida.
E o frio do aço
bebe o sangue quente
úmido
cheio de vida ainda viva
bebe devagar
deixando escorrer
algumas gotas
manchando o tapete
de fios e tramas
enquanto  adormeço.

domingo, 26 de outubro de 2014


Que o meu desejo
Seja o chão que tu pisas
Se é assim que posso te ter

Que o meu silêncio
Seja grito na tua boca
De insanidades

Que a minha dor
Se deite em teus braços
Que ignoram a flor

Que os meus olhos
Tateiem os vazios
Que tua alma busca

Que eu te queira
Nas cinzas do que sobrou
Do amanhã

Que eu seja apenas
Esse infinito
Que buscas na escuridão

E que a minha busca
Constante e absurda
Deite-se num jardim
Onde formigas e
Joaninhas
Passeiem livremente
Enquanto espero por ti.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014


Livros no quintal de minha alma

inspirado na canção Livros no quintal
de Vitor Ramil

 Quero ir embora, pode ser pra Passárgada, eu, diferente daquele, nem conheço o rei, pouco importa, qualquer lugar é melhor que aqui. Eu não fui feliz, caminhei e só encontrei pedras no meio do caminho, e os meus vestidos nunca tiveram campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. Nunca fui ao aniversário da minha vó, tenho ciúmes de Clarice, ela sabia como divertir-se nos aniversários. Também nunca tive um teto só meu, vejam vocês, se isso já não é motivo pra querer partir. Vi Dionísio poucas vezes, o amava tanto, mas ele, ah! Ele só tinha olhos para Ariadne. E eu, nunca tive esse tal amor eterno, nem infinito, e já cansei de rir meu riso e chorar meu pranto. Também não sei tricotar, podia ser como aquela mulher, não lembro o nome agora, mas ela fazia e desfazia sua linda colcha à espera do amado, eu nem tenho por quem esperar. Às vezes me parece que se passaram cem anos, cem anos de pura solidão. Minha casa agora está cheia de espíritos, todos vingativos, me espiando e esperando que chegue o meu fim. E eu, nem conheci o mar. E nunca tive um anjo a me acolher, nem torto nem esbelto. Que triste sina. Olho as palavras temporárias e duradouras, disputando o mesmo espaço. Eu queria partir agora mesmo, de solas e asas, sair por aí, ouvindo as histórias do pato fáustico, e ouvindo in the sky. Mas, aí vem alguém minicontando coisas que eu não sei ouvir, e ainda não posso partir, ligo o rádio, está tocando há quem diga que não era aquela música, que estranho, a letra é envolvente, olho pra parede do quarto, no pôster já meio rasgado, um retrato do artista quado guri e a letra da música ao lado. Lembro de um amigo, ele adora uma tal capitu e seus olhos de cigana oblíqua. Por isso vale a pena viver, mas eu, ainda vivo só. E às vezes, quando me esqueço e me olho no espelho, não me reconheço, eu não tinha esse rosto de hoje, sem viço sem brilho sem vontade, perdi meu espelho de juventude e com ele meu olhar de futuro.
Olhem, são libélulas, que lindas, esse é o meu caminho. Até breve.

Lilian  

quinta-feira, 7 de agosto de 2014



Olhem esses homens ávidos
por bicos de seios
os olhos ocos virados
pro céu de maio
as mãos tateando o escuro
sentindo o frio da noite
não se sabem hirtos
perdidos na ausência 
separados pelo muro 
da saudade mais intensa.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Aconteceu, então...

André escreveu para Andreia
que escreveu para Cristiano
que escreveu para Daniella
que escreveu para Daniel
que escreveu para Gabriely
que escreveu para Diogo
que escreveu para Joselma
que escreveu para Giliard
que escreveu para Suellen
que escreveu para Luciano
que escreveu para Tammie
que escreveu para Paulo
que escreveu para Vanessa
que escreveu para Volmar
que escreveu para Lilian

que não escreveu para ninguém, porque foi ao casamento de J. P. F.

sexta-feira, 20 de junho de 2014


O coveiro


O coveiro olhava torpe
Os olhos perdidos no amanhã
Nem percebia a dor a sua volta
Apenas admirava a cova funda
Uma das mais bonitas
As paredes um retângulo perfeito
Iriam guardar saudades
De um tempo que não volta mais
Esperava complacente
A multidão se afastar com seu pesar
E ele, então, poderia ir para casa
Beijar a mulher
Brincar com os filhos
Levar o cachorro pra passear
E voltar amanhã
Se Deus quiser
E contemplar a vida
Mais uma vez.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Hoje não tem café da manhã
Nem tua companhia
Nem o afago dos teus dedos
Entrelaçando meus cabelos

Hoje não tem tristeza
Nem alegria
Só esse melancólico silêncio
Invadindo torpemente
Meu ventre
De embrulhos matinais

Hoje eu me visto de adeus
E sigo em direção ao mar
De volta ao líquido
Que um dia me conduziu

Hoje eu não quero despedidas
Nem quero o choro dos teus olhos
Subo em minha barca de ouro
E diamantes
Deixo umas moedas na mão do caronte
Antes de encontrar meu hades

Hoje se der
Eu retorno à tardinha
E te beijo novamente.


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