Livros no quintal de minha alma
inspirado na canção Livros no quintal
de Vitor Ramil
Quero ir embora, pode ser pra Passárgada, eu, diferente daquele, nem
conheço o rei, pouco importa, qualquer lugar é melhor que aqui. Eu
não fui feliz, caminhei e só encontrei pedras no meio do caminho, e
os meus vestidos nunca tiveram campânulas vermelhas à ponta de
longas hastes delicadas. Nunca fui ao aniversário da minha vó,
tenho ciúmes de Clarice, ela sabia como divertir-se nos
aniversários. Também nunca tive um teto só meu, vejam vocês, se
isso já não é motivo pra querer partir. Vi Dionísio poucas vezes,
o amava tanto, mas ele, ah! Ele só tinha olhos para Ariadne. E eu,
nunca tive esse tal amor eterno, nem infinito, e já cansei de rir
meu riso e chorar meu pranto. Também não sei tricotar, podia ser
como aquela mulher, não lembro o nome agora, mas ela fazia e
desfazia sua linda colcha à espera do amado, eu nem tenho por quem
esperar. Às vezes me parece que se passaram cem anos, cem anos de
pura solidão. Minha casa agora está cheia de espíritos, todos
vingativos, me espiando e esperando que chegue o meu fim. E eu, nem
conheci o mar. E nunca tive um anjo a me acolher, nem torto nem
esbelto. Que triste sina. Olho as palavras temporárias e duradouras,
disputando o mesmo espaço. Eu queria partir agora mesmo, de solas e
asas, sair por aí, ouvindo as histórias do pato fáustico, e
ouvindo in the sky. Mas, aí vem alguém minicontando coisas que eu
não sei ouvir, e ainda não posso partir, ligo o rádio, está
tocando há quem diga que não era aquela música, que estranho, a
letra é envolvente, olho pra parede do quarto, no pôster já meio
rasgado, um retrato do artista quado guri e a letra da música ao
lado. Lembro de um amigo, ele adora uma tal capitu e seus olhos de
cigana oblíqua. Por isso vale a pena viver, mas eu, ainda vivo só.
E às vezes, quando me esqueço e me olho no espelho, não me
reconheço, eu não tinha esse rosto de hoje, sem viço sem brilho
sem vontade, perdi meu espelho de juventude e com ele meu olhar de
futuro.
Olhem, são libélulas, que lindas, esse é o meu caminho. Até
breve.
Lilian
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