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By Ferramentas Blog

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A última sonata




A última sonata


Véus coloridos cobriam os rostos das mulheres da vila. Todas por baixo do véu levavam no coração uma lágrima insistente que caia lúgubre. Todas musas do grande poeta, que cedo fora encantar outros céus, com seus cantos. Cada véu trazia um sentimento, uma lembrança, uma vontade de estar novamente nas letras sedutoras que deslizavam em matizes nas folhas brancas.

O véu negro trazia a alegria de ser lembrada entre tantos outros véus que cobriam rostos mais jovens. Em azul-turquesa uma saudade que jamais iria abrandar. Um verde mar que varria a areia da praia em ondas sinuantes. Rosa cor da pureza que fora desvirginada nos sentimentos libidinosos. Um perfume lilás invadia suavemente narinas masculinas. Em amarelo uma dor infinita que dourara tantos poemas. Alarajando o dia feito pôr-do-sol sofria por baixo do véu outro rosto triste. E, em vermelho, a despedida suave de quem foi musa, de quem um dia foi rainha de desejos. Tantos véus coloridos.

O poeta pintou as mulheres da vila, desnudou e adornou com cores do arco-íris, enfeitando sua nudez com pérolas que exalavam perfume das flores. Só o poeta sabia as mulheres assim, só o poeta sentia as mulheres assim, só o poeta podia as mulheres assim. Minuciosamente percorria cada musa, sempre única, acariciando e alimentando seus sonhos mais íntimos. Sabia o poeta cada segredo, até os não contados, apenas suspirados em seus devaneios inspirados pela paixão.

O poeta da vila sucumbiu aos desejos mais sublimes dos véus coloridos que cobriam olhares transcendentes, olhares que se evolavam muito depois de apagar a luz. O poeta da vila deixou cedo demais os perfumes que emanavam em todas as esquinas suas nuances. O poeta da vila deixou um gosto doce de lembrança e saudade. O poeta da vila ouviu o lamento silencioso de cada véu colorido. O poeta da vila escreveu seu último poema, e uma linda canção ouviu-se por todo lado, e o céu encheu-se de cores, e o perfume das flores foi sentido em cada pétala, e em cada sentimento uma emoção transbordava diferente.

E assim o poeta da vila partiu levando consigo tantos véus quanto amou.

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