Olha aí meu amigo, minha amiga, tem uns ocos, uns vazios, umas iluminuras, outras molduras, desventuras, (des)amores, saudades, o tudo e o nada, o vento, as margaridas e os girassóis, nessas tessituras que percorrem linhas desavisadas!
Arrancaram os trilhos do trem. Os mesmos trilhos, onde ainda ontem eu brinquei. E neles eu me equilibrava de olhos fechados só pra vida passar mais devagar... Arrancaram os trilhos do trem, e junto, um pedaço meu. As paralelas linhas sem fim aonde caminhavam meus sonhos e nessas linhas podia me imaginar... - cada dia diferente - Para onde? Onde estão agora os meus trilhos? Onde foram parar minhas pegadas? Com elas deixei tantas lembranças... ... de uma juventude perdida no tempo e que nas paralelas não puderam voltar. Os amigos - como riam... Num vai e vem bucólico vida simples e sossegada tardes de domingo de mãos dadas. Arrancaram os trilhos do trem. Não deixaram nada no lugar. Levaram nossas lembranças. E nossos caminhos. Dormentes. E nesse descompasso espectral figuras sem matiz alguma às vezes me chamam para sonhar... E elas se enchem de cores e voltam meus sonhos e as risadas de domingo Ouvindo o apito do trem.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
SERÁ...
Será... que da vida nada levarei sem ter vivido um dia apenas com o teu amor?
Será... que verei o mar novamente sorrirei ao poente ao lado teu?
Será... que o ano novo que brindo me traz de novo alegria de estar junto a ti?
Será... que essa tristeza insana vai-se de minha alma por não saber onde estás?
Será... mais um dia sozinha sonhando acordada com os carinhos teus?
Será... que serei feliz novamente olhando a lua no céu te amarei diferente?
Será... que beijando em pensamento chego ao firmamento e acerto teu coração?
Será... que escrevendo ao vento as palavras te encontrem e voltas pra perto de mim?
Será... que amei de verdade ou foi pura vontade de sentir tanta saudade?
Véus coloridos cobriam os rostos das mulheres da vila. Todas por baixo do véu levavam no coração uma lágrima insistente que caia lúgubre. Todas musas do grande poeta, que cedo fora encantar outros céus, com seus cantos. Cada véu trazia um sentimento, uma lembrança, uma vontade de estar novamente nas letras sedutoras que deslizavam em matizes nas folhas brancas. O véu negro trazia a alegria de ser lembrada entre tantos outros véus que cobriam rostos mais jovens. Em azul-turquesa uma saudade que jamais iria abrandar. Um verde mar que varria a areia da praia em ondas sinuantes. Rosa cor da pureza que fora desvirginada nos sentimentos libidinosos. Um perfume lilás invadia suavemente narinas masculinas. Em amarelo uma dor infinita que dourara tantos poemas. Alarajando o dia feito pôr-do-sol sofria por baixo do véu outro rosto triste. E, em vermelho, a despedida suave de quem foi musa, de quem um dia foi rainha de desejos. Tantos véus coloridos. O poeta pintou as mulheres da vila, desnudou e adornou com cores do arco-íris, enfeitando sua nudez com pérolas que exalavam perfume das flores. Só o poeta sabia as mulheres assim, só o poeta sentia as mulheres assim, só o poeta podia as mulheres assim. Minuciosamente percorria cada musa, sempre única, acariciando e alimentando seus sonhos mais íntimos. Sabia o poeta cada segredo, até os não contados, apenas suspirados em seus devaneios inspirados pela paixão. O poeta da vila sucumbiu aos desejos mais sublimes dos véus coloridos que cobriam olhares transcendentes, olhares que se evolavam muito depois de apagar a luz. O poeta da vila deixou cedo demais os perfumes que emanavam em todas as esquinas suas nuances. O poeta da vila deixou um gosto doce de lembrança e saudade. O poeta da vila ouviu o lamento silencioso de cada véu colorido. O poeta da vila escreveu seu último poema, e uma linda canção ouviu-se por todo lado, e o céu encheu-se de cores, e o perfume das flores foi sentido em cada pétala, e em cada sentimento uma emoção transbordava diferente. E assim o poeta da vila partiu levando consigo tantos véus quanto amou.
que mais eu poderia dizer anoiteceu tão rápido as estrelas fizeram companhia a lua, tão solitária sua face prateada sorria pra disfarçar sua tristeza que mais eu poderia dizer se o sol beija o mar na despedida do dia e o deixa ali com suas rendas brancas varrendo a areia que mais eu poderia dizer se as nuvens se pintam de cores de cinza, azul ou vermelho colorindo as vidas lá embaixo que suspiram ao anoitecer que mais eu poderia dizer se a paixão é efêmera e logo se acostuma com a foto do porta-retratos que é só moldura que mais eu poderia dizer pra que a tristeza não invada meu corpo depois do amor e me deixe dormir um sonho bom
eu poderia dizer que te amo que a lua é mágica que o sol me aquece o mar me refresca as nuvens são de algodão a paixão tão bom sentir e que se estou contigo não há lugar pra tristeza!
Anoiteceu, tava na cara, aquele sorriso era falso, ele tinha traido de novo, pela última vez, um som surdo escapou do 22.