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By Ferramentas Blog

sexta-feira, 13 de setembro de 2013


Virgino adorava as telas e as mulheres que pintava. Sempre um novo amor surgindo a cada nova pincelada, e a cada nova tela mais emoções surgindo entre os amarelos e os lilases. Apesar desse abnóxio prazer e, embora repetisse quase como um eco que amava sua esposa, ela sempre o fitava com aquele olhar desconfiado. Talvez, tivesse um pouco de razão, afinal nunca se vira pincelada pelas mãos habilidosas de Virgino.
Mãos que a noite percorriam seu corpo, invadiam curvas, deslizavam suavemente entre suas coxas, fazendo-a suspirar de prazer. As noites eram sempre dela, não importava o tempo que passava com aquelas mulheres do atelier, quando a via em seu shortinho de dormir, os seios quase a mostra numa blusa transparente, agitava-se todo e com um gesto ao mesmo tempo suave e firme, (diria até com uma boa pegada), a tomava em seus braços e muitas vezes iam direto pra cama, ficando o jantar sobre a mesa, às vezes até o dia seguinte.
Nesses momentos ela esquecia tudo, até aquelas mulheres do atelier, afinal, elas jamais o teriam, não do jeito que ela o tinha, não com aquele arrebatamento que lhe tirava o fôlego. Mas às vezes no meio da noite, ela acordava e ficava tentando penetrar nos sonhos de Virgino, descobrir por que ele ficava com aquele semblante igual a quando faziam amor. Sempre vinham a sua mente aquelas mulheres do atelier, com suas nudezas sempre à mostra, com olhos esfomeados, com cabelos caindo sobre os ombros, ou tapando parcialmente os seios, ou curtos acariciando a nuca, e mãos lascivas, provocativas, ah! Virgino, quem são essas mulheres? Será que não me percebes fora da cama? Será que não te inspiro como uma musa? Será que um dia também serei uma daquelas mulheres do atelier?
Sempre dormia inquieta quando tinha esses pensamentos e ficava assim durante todo o dia, mas sempre se rendia aos beijos quentes e provocantes do marido. Sempre queria mais, quase sempre se transportava para os corpos daquelas mulheres do atelier e assim sentia-se pertencente aquele mundo de fantasias, de imaginação, de extravagâncias, podia até mesmo sentir as pinceladas desenhando sua pele, a tinta espalhando-se entre suas curvas, as cores explodindo como um orgasmo.
Numa noite, Virgino disse à esposa que teria que sair e voltaria mais tarde, que ela não se preocupasse, eram apenas negócios, e que ela não precisava esperá-lo. E foi assim durante várias noites. Ela nunca disse nada, nem perguntou, apenas suspirava pela casa, e mesmo assim ainda se entregava ao marido mesmo que ele chegasse tarde da noite.
Quando voltou naquela noite, um pouco mais cedo do nos outros dias, entrou direto em casa, chamando pela esposa. Estranhou a mesa posta, mas o jantar não havia sido feito, a TV ainda ligada num canal qualquer, e um silêncio que nunca escutara antes. Chamou e como ela não atendeu correu para o atelier, iria deixar lá a surpresa para sua mulher. Assim que ela chegasse lhe mostraria o que andara fazendo nessas últimas noites em que se ausentara.
Ao abrir a porta ficou pasmo, a boca num grito que não saiu, os olhos vidrados embasbacados com a visão aterradora, os braços ao longo do corpo como se fossem galhos derrubados pelo vento, e as mãos não podiam controlar o espanto.
Todas as mulheres do atelier estavam mutiladas, os corpos rasgados, as mãos desfalecidas, os cabelos sem viço, e no chão do atelier, ainda respirando lentamente, esvaencendo-se, olhou para Virgino e para o papel pardo que trazia, indagou-lhe apenas com o olhar, e ele percebendo o desejo da esposa rasgou apressadamente o embrulho deixando mostrar o quadro mais lindo que ele já pintara.
Louise então percebeu tarde demais, que todas aquelas mulheres do atelier sempre foram ela, e agora Virgino pintara a mais linda de todas, a verdadeira musa de sua vida, a única mulher que sempre amou.

Mas agora era tarde demais. 
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