Hoje eu tenho a idade da minha avó. Ainda uma menina via em
seu corpo pequeno a alegria de viver. Não sabia o que era ter mais de 50 anos.
Naquela época a vó parecia mais velha. Todas as mulheres pareciam. A vida era dura e as castigava com seus
preconceitos. Não havia espaço para o estudo, não havia espaço para algo mais
além dos muros do próprio lar. Ser dona de casa, não era sonho, era obrigação. Era
preciso ser.
Os tempos passaram e minha mãe também chegou a essa idade
linda. Ainda não havia liberdade, ainda éramos donas de casa, ainda tínhamos
pouco estudo, ainda habitávamos o espaço restrito do lar. Algumas mulheres
trabalhavam, poucas, e em serviços femininos. Minha mãe costurava para fora. Lindos
vestidos que enfeitavam os corpos vaidosos de lindas mulheres. Todas elas.
A minha avó adorava as flores, tinha um jardim lindo na casa
do Cassino, as árvores de frutas, as flores de todo tipo, os brincos de
princesa, as onze horas, as dálias, as margaridas. Cheiro bom é cheiro de vó. É
carinho de um abraço cheio de saudade da infância. É cheiro de flor e gosto de
fruta recém colhida do pé.
A minha mãe também tinha esses cheiros bons. A gente, eu e
meus irmãos e a minha irmã, cabíamos no seu abraço. Éramos família. Melhor,
Família, com F maiúsculo. Lembro da casa ali na Paraíba, o meu quarto da
frente, a sala com seu espelho grande, a mesa dos almoços de domingo, o meu pai
cozinhando pra todo mundo. Sinto até hoje aquele cheirinho de comida boa. E o pé de Araçá, lá no fundo do quintal, junto com as outras árvores. Vermelhinho como a vida. pulsava ali os meus sonhos.
Hoje eu faço 51! É uma boa ideia!
Hoje eu sei a minha avó, e sei também a minha mãe. E se
pudesse estar no abraço das duas seria mais feliz ainda. Mas a vida tem seu
curso. Ela nos deixa a saudade. Mas deixa também a certeza de que fomos amados
com tanta intensidade que tempo nenhum pode apagar.
Hoje eu faço 51! É uma boa ideia!
Hoje eu posso querer e não apena ser. Eu sou dona de casa, e
também sou mãe, e sou esposa, e sou escritora, e sou poeta, e sou amiga, e sou todas
as mulheres que cabem em mim. Agora eu sei o amor verdadeiro, amor de mãe e sei também de uma saudade que faz doer, mas que também nos enche de felicidade.
Hoje eu faço 51! É uma boa ideia!
E se todas as lembranças, e se todas as saudades, e se todos
os abraços, e se todos os outros dias, e se todo meu amor, e se toda essa
vontade que às vezes escapa do peito e tinge o papel, ainda está aqui comigo,
está viva em mim, é pelo amor que sempre esteve presente em minha vida.
Hoje em São Paulo eu nascia. Hoje em Rio Grande eu faço 51!