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By Ferramentas Blog

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Ah! Se eu pudesse

Lilian Ney

Ser Pórtico dando boas-vindas
Ser asas do Quero-quero
Ser Pedra molhada pelas ondas do mar
Ser Leão-Marinho descansando ao sol
Ser Farol no fim dos molhes
Ser Gaivota voando sobre o mar
Ser Oliveira perfumando avenidas
Ser Garça enfeitando as árvores da praça
Ser Cais esperando a balsa de volta ao lar
Ser Biguá mergulhando na lagoa
Ser Coreto da Praça enfeitado de flores
Ser Pardal cutucando telhados
Ser “Árvore-bicho” lá na Xavier
Ser o canto do Bem-te-vi
Ser Minuano anunciando o inverno
Ser Tuco-tuco espiando toda gente
Ser Eucalipto servindo de casa
Ser Caturrita fazendo algazarra
Ser Praia cheia de gente
Ser Cassino louco de saudades
Ser Ilha contemplando o por do sol
Ser um Dia cinza tão Rio-Grandino...

Ah! Se eu não tivesse
Olhos tão acostumados!


Publicado no Sarau Poético Musical, em 16 agosto de 2015, evento em comemoração ao dia nacional do Patrimônio Histórico. 

domingo, 15 de fevereiro de 2015


Pó de arroz

Passo pó no rosto
para disfarçar a brancura
dos dias sem teu olhar
Disfarço em frente a vitrine
de roupas para moças
Sinto-me manequim
presa para sempre
a olhar na mesma direção
Passam as estações
e os olhares diretos para mim
depois retorna o vazio
o escuro o claro o escuro o claro
das horas que o tempo
não pode parar
A pluma macia
enxuga a última lágrima
de uma tarde melancólica
aceno levemente para mim
Do outro lado da vidraça
ela me sorri
um sorriso de liberdade
de adeus ou até logo
por que posso voltar sempre
se assim eu desejar
Voltar e ser diferente
ou a mesma ou a outra
e até nós duas
a de dentro e a de fora
Enfim,
Guardo o pó na bolsa.


domingo, 25 de janeiro de 2015


te busco na insanidade
da rosa presa ao espinho

olho-te como um pássaro
que alimenta sua cria

olho-me também
perplexa dessa vontade
de estar presa
na tua ausência

é sempre distância

esse amor que
um dia juramos eterno.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014



Saudade

O nó da gravata
O nó na garganta
O nó sem o s
Ainda ontem
Na avenida
No meio da multidão
Teu corpo
Caminhava livre
Mirava a praia
Cada vez mais perto
Cada vez mais brisa
O cheiro
O gosto
Afrouxa o nó
Desata a lágrima
Segue livre
Deixa pegadas
A gravata no chão
A lágrima no chão
E o amor
Ainda no coração!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Hoje eu tenho a idade da minha avó. Ainda uma menina via em seu corpo pequeno a alegria de viver. Não sabia o que era ter mais de 50 anos. Naquela época a vó parecia mais velha. Todas as mulheres pareciam.  A vida era dura e as castigava com seus preconceitos. Não havia espaço para o estudo, não havia espaço para algo mais além dos muros do próprio lar. Ser dona de casa, não era sonho, era obrigação. Era preciso ser.

Os tempos passaram e minha mãe também chegou a essa idade linda. Ainda não havia liberdade, ainda éramos donas de casa, ainda tínhamos pouco estudo, ainda habitávamos o espaço restrito do lar. Algumas mulheres trabalhavam, poucas, e em serviços femininos. Minha mãe costurava para fora. Lindos vestidos que enfeitavam os corpos vaidosos de lindas mulheres. Todas elas.

A minha avó adorava as flores, tinha um jardim lindo na casa do Cassino, as árvores de frutas, as flores de todo tipo, os brincos de princesa, as onze horas, as dálias, as margaridas. Cheiro bom é cheiro de vó. É carinho de um abraço cheio de saudade da infância. É cheiro de flor e gosto de fruta recém colhida do pé.

A minha mãe também tinha esses cheiros bons. A gente, eu e meus irmãos e a minha irmã, cabíamos no seu abraço. Éramos família. Melhor, Família, com F maiúsculo. Lembro da casa ali na Paraíba, o meu quarto da frente, a sala com seu espelho grande, a mesa dos almoços de domingo, o meu pai cozinhando pra todo mundo. Sinto até hoje aquele cheirinho de comida boa. E o pé de Araçá, lá no fundo do quintal, junto com as outras árvores. Vermelhinho como a vida. pulsava ali os meus sonhos.

Hoje eu faço 51! É uma boa ideia!

Hoje eu sei a minha avó, e sei também a minha mãe. E se pudesse estar no abraço das duas seria mais feliz ainda. Mas a vida tem seu curso. Ela nos deixa a saudade. Mas deixa também a certeza de que fomos amados com tanta intensidade que tempo nenhum pode apagar. 

Hoje eu faço 51! É uma boa ideia!

Hoje eu posso querer e não apena ser. Eu sou dona de casa, e também sou mãe, e sou esposa, e sou escritora, e sou poeta, e sou amiga, e sou todas as mulheres que cabem em mim. Agora eu sei o amor verdadeiro, amor de mãe e sei também de uma saudade que faz doer, mas que também nos enche de felicidade. 

Hoje eu faço 51! É uma boa ideia!

E se todas as lembranças, e se todas as saudades, e se todos os abraços, e se todos os outros dias, e se todo meu amor, e se toda essa vontade que às vezes escapa do peito e tinge o papel, ainda está aqui comigo, está viva em mim, é pelo amor que sempre esteve presente em minha vida.

Hoje em São Paulo eu nascia. Hoje em Rio Grande eu faço 51!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014


Exílio

Morro dentro de mim
desde o dia em que nasci
o sol que habita meus olhos
é turvo e esquivo
como é a sombra da pedra 
que não se comove
com o beijo do mar.

Morro dentro de mim
porque só te vejo
de partida
teu dorso é sempre adeus
incompreendido
e infinito 
no dorso de um pássaro cego.

Morro dentro de mim
e lambo minhas feridas
na ânsia de sentir teu gosto
de saber tua boca
flambados de insultos
que me açoitam
como um gozo
que nunca acaba.

Morro dentro de mim
só assim eu vivo.


domingo, 2 de novembro de 2014

Tua boca colada
À minha
Teus sons
Negros
Brancos
Vermelhos
Tua pele
Brilhante
Dourada
Te toco
Sinto teus tremores
Teus rugidos
Teus arrulhos
Teus breves silêncios
Notas cítricas
Cintilâncias
Fulgores
No desejo ardente
No êxtase do beijo

Te toco mais intensa!
Teu corpo
Águia de metal
Penetra a carne
O corte rente
Decepa
Mutila
Líquido
Morno
Sangra
Desvanece.

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