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By Ferramentas Blog

terça-feira, 20 de agosto de 2013


E o que a Senhora escreve? Perguntou-me  o repórter, um homem de uns 40 anos, com um olhar sedutor e uma voz rouca, nada tímido e parecendo provocar-me.
Olha meu caro,  não gosto das obviedades, gosto de inventar vidas, sussurros, gozos, sabe, sobre o escuro que se forma quando a gente fecha os olhos. E talvez dos medos, dos desamores, das perdas e das coisas que ainda não sei. E das finitudes. Por que elas existem. Mas nunca se sabe quando. 
Uma casa quando bem-assombrada está repleta de sons, imagens, cheiros, sabores, sensações, tocáveis ou não. Assim que escrevo, uma casa bem-assombrada. É o meu compromisso. É uma relação incestuosa, um amor proibido, até condenado, mas não importa, é sentimento. É o desejo que rompe o hímen e se expõe. Aí tudo vai para o papel, ... sim, para o computador, é que ali, acho que perdeu um pouco a graça, não tem rabiscos, e aquilo que se apaga (deleta) não volta mais, e todas as letras são iguais, no papel não, tem o deslizar, a caneta falha, a ponta do lápis quebra, a gente risca e depois escreve por cima...
... bom, voltando ao que escrevo, não tem graça o amor certinho, não tem surpresas. Gosto mesmo é da imperfeição  que fere profundamente a carne e deixa chagas na alma. E também de blasfemar um pouco. Na igreja não pode. Então, eu escrevo esses impropérios (gosto dessa palavra), e me divirto muito com a cara de olhos esbugalhados diante da heresia. Aí tem a missa de domingo.
Sou escritora, e visto as palavras como um hábito, religiosamente (rsrsrs), sabe, elas (as palavras) me guardam do tempo que ecoa lá fora. O legal de escrever é poder ter mais de um amante, enveredar por caminhos proibidos, desestabilizar tabus, é como eu disse, é uma relação fascinantemente incestuosa, de proibido-permitido que provoca em meus cúmplices (os leitores) medo, raiva, dor, empatia, saudades, lembranças, angustia, curiosidade.
Perplexo, ele me olha, tinha outras perguntas, mas não saíram pela boca, mas os olhos (sedutores) pediam mais. Convidei-o para um café. E depois... já é outra história.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Não te aproximes de novo
Perseu,
Teu escudo agora,
De nada serve
Olha tua face
Teus olhos
 Tua boca
Sedentos de mim
Eu te ofereço a eternidade
E só queres decapitar
Meu coração
E jogá-lo
Entre as pedras do rio
Não te enganes Perseu
Só eu posso te salvar
Olha em meus olhos
Profundamente
Esquece essa outra
Que te promete amores
Mas acorrenta-se a outros
Traga-me outros homens
E eu provarei
Que são só estátuas
Perdidas em um jardim
Mas tu e eu
Seremos eternos

Se me olhares agora.



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Onde estás, Dionísio

Queria saber de ti
imaginar às vezes dói
é que eu fico pensando
em coisas que não posso pintar
sabe, como naquela noite
os talheres de prata
as velas perfumadas
o vinho nas taças
e depois nós dois
ali mesmo na sala
sobre a mesa entre
taças
 velas
  talheres
Queria saber de ti
mas queria saber mesmo
se ainda me pensas...
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